Projeto resgata tradição das cartas para reduzir distâncias e fortalecer o vínculo na comunidade

07-10-20 | Sem categoria | admin |

Fortalecer mecanismos de transformação da realidade e das vivências para a superação das violências, possibilitando a sensibilização sobre os Direitos Humanos, principalmente no que tange a Justiça de Gênero, por meio da liberdade e a livre expressão de adolescentes e jovens, esse é o objetivo de um projeto que está sendo desenvolvido pela Casa da Criança e do Adolescente, com o apoio da Fundação Luterana de Diaconia -FLD

COL se readapta para manter atendimento nas comunidades

O projeto, que inicialmente previa encontros presenciais, precisou ser readaptado pela pandemia de coronavírus, e a metodologia está acontecendo em formato de “correio”, resgatando a tradição das cartas e por meio de uma escrita afetiva, sensibilizar, fortalecer vínculos e reduzir distâncias com as comunidades atendidas.

Educadores e assistente social, quinzenalmente, estão indo às casas dos/as adolescentes, jovens e crianças entregar e buscar as cartas (seguindo todos os protocolos de segurança contra o COVID-19). No primeiro momento foi entregue uma carta com informações sobre a proposta e foi solicitado que cada um/uma expressasse seus sentimentos, ideias e/ou o cotidiano neste momento de isolamento.

De acordo com a coordenadora da CCA, Micheli Duarte, esta proposta além de estar debatendo o tema da Justiça de Gênero, está estabelecendo um canal seguro de comunicação com os/as participantes, para que possam colocar suas angústias, anseios, problemas, desejos e sonhos. Através disso, os vínculos com os educandos são fortalecidos, além de acolher a comunidade nesse momento tão delicado. Outro ponto interessante que está sendo trabalhado, de forma indireta, é o incentivo à leitura e a escrita, mas sem o viés da escola, sem copiar o que já existe ou repetir conhecimentos. Trata-se de ler e escrever por necessidade, porque precisamos colocar os sentimentos para fora, sentimentos que por vezes não conseguimos falar. A carta também possibilita uma maior abrangência, visto que infelizmente hoje também vivemos um contexto de exclusão das pessoas que não possuem acesso a internet.

A primeira leva de cartas com as respostas dos/as participantes já foi recolhida e esta semana estão sendo entregues novas cartas, com as respostas dos educadores, que leram e responderam individualmente cada uma das cartas com uma mensagem de acordo e uma abordagem para que se inicie a discussão sobre Justiça de Gênero.

“Impossível mensurar os sentimentos contidos em cada carta, cada um contando um pouco sobre como está se sentido, como está sendo seu dia a dia, do que mais sentem falta, detalhes do cotidiano e demonstrações de carinho”, relata a educadora da CCA, Bruna dos Reis Rodrigues.

O projeto, que inicialmente iria abranger adolescentes (entre 13 e 17 anos) e jovens (entre 18 e 29 anos), foi expandido para as crianças, já trouxe frutos para os educadores, que citam retornos que surpreenderam, as crianças usam desenhos, mensagens de saudade e esperança de que logo esse momento difícil passe para que possam se reunir na CCA. Foi recebida também uma carta muito emocionante de uma mãe de participantes, que relatou como está sendo a experiência da família nessa quarentena, contando que estão mais próximos, mais compreensivos e carinhosos uns com os outros e agradecendo por toda ajuda recebida da CCA/COL nesse momento de dificuldades.

O COL ao longo da sua trajetória vem desenvolvendo ações de enfrentamento à violência contra crianças, adolescentes e suas famílias. A partir das avaliações realizadas no atendimento feito no decorrer do ano de 2019, evidenciaram no perfil das famílias atendidas, vulnerabilidades como: violência contra mulher, machismo, gravidez na adolescência, abuso e exploração sexual contra criança e adolescente, violência doméstica, uso de drogas, trabalho infantil e falta de acesso aos meios de comunicação. Dessa forma, a proposta do projeto nasceu para que se pudesse continuar a luta para efetivação dos direitos humanos, agregando novas formas de abordagem, contemplando o desejo advindo dos grupos de crianças e adolescentes que através da liberdade de expressão, conseguem expor seus sentimentos e trocar conhecimentos.